FIA aposta em vistoria por sorteio após GPs para coibir irregularidades na F-1
Engana-se quem pensa que a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) controla com detalhes a legalidade dos carros da Fórmula 1 ao longo da temporada.
Os mecanismos para fazer isso existem, e a FIA consegue limitar, por exemplo, as horas de uso dos túneis de vento, tem poderes para colocar seus funcionários dentro das garagens das equipes ou mesmo pedir todo o projeto para determinado time se quiser.Mas, como os equipamentos são extremamente complexos, não há tempo hábil para checar minuciosamente todos os 20 carros do grid. Porém, uma mudança que começou a valer na primeira etapa deste ano, no Bahrein, visa aumentar o poder de vigilância: a FIA vai sortear um carro após cada prova para que seja feita uma vistoria minuciosa."Todas as equipes têm muitas suspeitas de seus rivais, de que talvez a equipe X ou Y esteja fazendo algo. E tenho certeza de que, ocasionalmente, talvez algumas coisas tenham passado batido por nós", admitiu o chefe de monopostos da FIA, Nikolas Tombazis. "É uma prática positiva começar a checar os carros mais cuidadosamente."Até 2018, a FIA vistoriava todos os carros, mas focando apenas em alguns pontos, como dimensões, peso e flexibilidade das asas. Depois, a entidade passou a fazer apenas as pesagens, disponibilizando suas balanças e "réguas" de precisão para as próprias equipes verificarem seus carros nas quintas-feiras anteriores aos GPs.As pesagens, inclusive, são constantes ao longo do final de semana, e é por isso que os pilotos sempre passam por uma balança antes de irem ao pódio, por exemplo, já que o peso mínimo é determinado pela somatória do carro e competidor.Porém, nenhuma checagem é tão extensa como a que começou a ser feita no Bahrein, etapa na qual o carro sorteado foi o de Valtteri Bottas, da Mercedes.Segundo o documento da FIA que foi enviado às equipes, o carro selecionado após cada GP será "desmontado de maneira profunda para a checagem de conformidade às regras e revisões de software e sistemas", ou seja, será uma avaliação muito mais rigorosa do que a anterior.Esse processo começará com duas ou três pessoas e acabará com cinco ou seis, depois que os demais terminarem as revisões corriqueiras feitas nos outros carros, o que representa um aumento de investimento, sem o qual a novidade não seria possível."Por vezes nós queríamos fazer um trabalho melhor, mas não tínhamos recursos. Sim, ainda confiamos em denúncias, esse mecanismo sempre existiu, então tudo o que acontecia antes ainda é possível. Só achamos que isso dá um elemento extra", disse Tombazis.Ele se refere à prática comum de a FIA investigar um carro depois que um rival aponta alguma suspeita.Foi assim, por exemplo, que a entidade fechou o cerco à unidade de potência da Ferrari no final de 2019, depois que Mercedes e Honda, por meio da Red Bull, cobraram uma inspeção mais minuciosa. Também há o caminho oficial, do protesto, como a Renault fez com a Racing Point ano passado.Essas denúncias seguem sendo importantes porque nem essa nova revisão é completa. "Um carro tem 15 mil peças e não dá para checar todas elas. Mas podemos selecionar 50 peças aleatórias para nos certificarmos de que eles estão andando na linha", acredita o ex-projetista de Ferrari e aerodinamicista com passagens também pela McLaren e Benetton.A próxima etapa da Fórmula 1 será em Imola, na Itália, no dia 18 de abril. Lewis Hamilton venceu a etapa de abertura, disputada em 28 de março, no Bahrein.